Nota sobre meu país, Brasil: Sim, gosto desse tom possessivo. Dá-me uma sensação de pertencimento e participação. Não sei bem como iniciar esse post, fluem tantas fragmentações de pensamentos e argumentos que não consigo capturar. Vou tomar uma água. Não imagine que pretendo falar dessa forma tão formal sobre nosso – meu e seu – país.
Não quero ficar aqui dando voltas em um nacionalismo recheado de ilusão. Aprendi a partir da realidade, da crítica. Na verdade, o que me esta incomodando – de tal forma que me faz escrever isso- é a visão diferente que tomei do Brasil.
Até mesmo com o Brazil (o Brasil olhado pelo estrangeiro) estou indignada. É mais que estranho, pelo menos para mim, o imaginário do que é este país, fora dele. Fico reparando muito programas e pessoas que fazem as tantas opções de intercâmbios e programas interculturais. Notei uma semelhança entre –aviso! Estimativa infundada e provavelmente sem precisão – 88% das pessoas que se propõe a vivenciar o aprendizado de uma cultura estrangeira e quem sabe “ensinar a cultura brasileira”: elas apresentam fortes sintomas de aculturação. Uma doença tão forte que não acredito estar fora do grupo, mas reconheço que estou em tratamento.
Para início de conversa, essa coisa de sair do país para estudar ainda me parece um tanto elitista. É essa a ferida que encontrei. Talvez as pessoas que perderam tempo demais a adorar os feitos europeus ao longo da História do Brasil, seguindo a risca o manual do eurocentrismo, não reparem nisso. Uma perguntinha, você sabe quem civilizou o Brasil? Sabe mesmo? Não sou historiadora e não tenho mérito para fazer muito alarde sobre o assunto – é na meritocracia que vivemos, né? Porém, seria muita ingenuidade achar que fomos civilizados pelo Velho Mundo. E o Brasil africano? E o ameríndio? Você acredita mesmo que meia dúzia de europeus brancos e cristãos criaram o que temos aqui hoje? Com muita sorte não.
Veja, repare bem nossa cultura. A conhecemos mesmo? Atualmente, faço o possível para entender melhor o Brasil, seu verdadeiro povo. Não considero povo abrasileirado os moradores alienados em condomínios fechados da Barra da Tijuca. Não sei se sou só eu que estou cansada do ‘Brasil – Rio de Janeiro – Zona Sul’. Não desce mais pela minha garganta, entalou. Não engulo mais essa. E o SAMBA? E as religiões africanas, a capoeira, o calor humano, a alegria incompreensível desse povo? Quem relacionar o velho mundo com isso, por favor, pare de ler isso aqui.
Eu gosto de ver como a história do Rio de Janeiro mostrou que o Povo – sim o Povo mesmo do rio de Janeiro, os cariocas não só por acaso geográfico, aqueles que conhecem mesmo a cidade, que vivem no Rio e não no acervo turístico – resistiu e resiste às opressões, ao descaso dos políticos e do resto do RJ e do Brasil. Enquanto lia matérias no site Favela Tem Memória, me deparei com algumas datas interessantes:
- 1893: Demolição do Cortiço Cabeça-de-Porco. Segundo os jornais da época, seus moradores aproveitaram os restos da estalagem para construir os primeiros barracos do Morro da Providência, antigo Morro da Favela.
- 1897: Soldados da Guerra de Canudos chegam ao Rio e se estabelecem no Morro da Providência.
- 1900: O Jornal do Brasil publica o texto: “Onde moram os pobres”, sobre os moradores do Morro da Favela: “O ilustre Dr. Pereira Passos, ativo e inteligente prefeito da cidade, já tem as suas vistas de arguto administrador voltadas para a ‘Favela’ e em breve providências serão dadas de acordo com as leis municipais, para acabar com esses casebres”.
- 1897: Soldados da Guerra de Canudos chegam ao Rio e se estabelecem no Morro da Providência.
- 1900: O Jornal do Brasil publica o texto: “Onde moram os pobres”, sobre os moradores do Morro da Favela: “O ilustre Dr. Pereira Passos, ativo e inteligente prefeito da cidade, já tem as suas vistas de arguto administrador voltadas para a ‘Favela’ e em breve providências serão dadas de acordo com as leis municipais, para acabar com esses casebres”.
As Favelas... Se acha que vou falar do que anda ocorrendo no Rio, prefiro não comentar. Vou ficar de olhos/ouvidos um tanto tapados para não ver/ouvir as babaquices que passam a dizer. Como se agora todos virassem profissionais da segurança pública... O que você acha de ficar excluído, segregado, ignorado do restante do lugar em que vive? Dá para entender porque são tantos os homens que agora fogem de um morro para o outro... Não estou defendendo bandido como você deve estar pensando, não tem nada a ver com isso. Estou evidenciando a cegueira do Estado com as mais de 600 favelas no Rio de Janeiro – cidade. (estatísticas do IBGE). Até o Rio ser escolhido para sede de jogos olímpicos nada se fazia...
Mas agora o Estado resolve colocar UPP até sabe-se lá onde. Se você acha que é a solução, vá em frente. Tenho minhas crenças e descrenças na UPP. Já reparou que é só mais uma vez o Estado entrando com POLÍCIA para manter a ordem? Já reparou que não serão feitas pacificações em muitos lugares? Pode-se muito bem deixar milícias no poder de muitas favelas – Ah, eles garantem a segurança lá, dizem alguns. Você ingenuamente pensou que – Ah, agora o Estado está começando a se preocupar com os favelados (falo assim, carinhosamente, com todo respeito a quem mora nas favelas) ??
Sinto dizer que as milagrosas Unidades de Polícia Pacificadora estão localizadas COINCIDENTEMENTE (oh!) nas áreas nobres e naquelas que receberão projetos para o Rio 2016. Destruí algum conto de fadas? Se o fiz, me desculpe. Eu só queria abrir os olhos daqueles que parecem nem ter entendido a mensagem de Tropa de Elite 2.
Por último, eu percebi que não segui uma linha de raciocínio... Devem haver muitos erros, mas esse post especial eu não quero revisar. Eu sei o que penso, sei o que escrevi. O Título ia ser “Nota sobre meu país, Brasil” mas mudei. Será DESABAFO.
Abraços.

1 comentários:
Gostei muito, espero que continue assim Gih, sempre escrevendo otimos textos
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