Como escreveu o grande poeta modernista Oswald de Andrade, no Manifesto Pau-Brasil de 1925: "A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos." É sobre isso que pretendo discutir hoje. Depois de tanto tempo sob uma carcaça piegas do português burocrático e comedido, escrevendo segundo as normas gramaticais, venho manifestar meu apreço pela língua do cotidiano. O brasileirismo.
Longe de ser uma revolucionária como os modernistas da primeira fase ou uma defensora fanática da linguagem livre, apresento apenas um ponto de vista sobre a representação e influência da coloquialidade para partes ainda mais intrínsecas e subjetivas do ser humano - no caso, do brasileiro.
Não sei como pode estar entendendo este post, mas imagine. O que seria do 'Eu te amo' sem o erro de colocação pronominal? O falar errado para dizer certo. Será que 'amo-te' soaria tão calorosamente amoroso e verdadeiro? Demonstraria sob as rédeas da norma culta o sentimento popular, mesmo mascarado, envergonhado pela possibilidade do desvio pronominal?
Pessoalmente, agrada-me o uso dos 'vocês' - e da frase popular dos apaixonados com pequena alteração para "eu amo você". A compreensão do não-julgamento do erro alheio, a despreocupação quanto à forma devido à intimidade dos indivíduos presentes na conversa, o tratamento informalizado...
Talvez esse não tenha sido um tema intrigante, todavia gostei de entender a contribuição da qual Oswald tanto falou. Os tantos erros necessários para caracterizarmos corretamente o que somos e o que queremos expressar.
Boa noite.
quinta-feira, dezembro 30, 2010
domingo, dezembro 26, 2010
Nota Sobre a Existência de Deus
Hoje lendo o jornal O GLOBO, que geralmente nao me interessa muito, deparei-me com algo interessante:
"Em épocas antigas, a Igreja católica foi muito censurada por meter-se em assuntos de ciência. Casos como o de Galileu Galilei acabaram mostrando a total impropriedade dessa interferência.
Mas passou-se muito tempo até que a Igreja reconhecesse os seus erros, e reabilitasse Galileu.
Agora estamos vendo, curiosamente, o fenômeno inverso: cientistas que se pronunciam sobre assuntos de religião, e dizem que, de acordo com seus cálculos e medições, fica excluída a possibilidade da existência
de Deus.
Essa cruzada ao contrário talvez tenha um motivo empírico: a aparição, na nossa época, de correntes ditas
fundamentalistas que apresentam a religião sob o seu pior aspecto.
Assim se destruíram, em nome da religião, as torres gêmeas de Nova York, com a morte de milhares de inocentes. Como uma resposta torta a essa carnificina, tomou corpo, nos EUA do presidente Bush, uma forma de fundamentalismo cristão que fez mal à consciência americana, jogando o país de volta a épocas arcaicas.
Mas, na prática, os fundamentalistas acabam caindo no ridículo por suas próprias atitudes; enquanto declarações de cientistas são, ainda hoje, acolhidas com uma espécie de temor reverencial.
Seria bom, nesse caso, voltar a alguns princípios básicos. A verdade é que ciência e religião trabalham com
instrumentos diferentes, e, por isso mesmo, não deveriam entrar numa conversa de surdos.
A ciência, para obter resultados que dignificam a espécie humana, opera com dados exatos, medições e experiências. É difícil imaginar que assim se chegue perto de uma hipotética divindade.
A percepção do divino passa por outros caminhos. Um deles é o que já se chamou de “intuição intelectual”. É um tipo de visão que não depende do raciocínio discursivo.
Pense em certas manifestações da natureza — por exemplo, o mundo das flores. A mim, pessoalmente, emociona e deslumbra o verificar que, em cada flor, alguém ou alguma coisa estava em busca da perfeição.
Em todas elas, sem exceção, vê-se a procura do detalhe que, segundo Goethe, traía a presença do gênio. Nenhuma delas — muito menos a orquídea — dá a impressão de ser fruto do acaso, o resultado de uma série de adaptações. E o que você pode dizer de uma aplica-se a dezenas, a centenas, a milhares.
Nessa espantosa proliferação de beleza, não há algo a mais do que o acaso? Mas se, daí, você quiser extrair uma verdade científica, fracassará lamentavelmente. Porque o cientista quererá discutir flor a flor; a cada uma, aplicará métodos de raciocínio que se afastam de uma intuição generalizante.
Não, isso não é uma prova da existência de Deus. É só uma intuição. Mas por que ela seria menos válida
do que o raciocínio lógico? Imagine que você está num terrível problema de amor, e que, à sua direita, mora um cientista; à esquerda, uma pessoa em quem você se acostumou a admirar o bom-senso, a percepção psicológica. A qual dos dois você recorrerá, nesse apuro?
A divindade — em que eu acredito — jamais quis conformar-se ao raciocínio lógico. Desde que o mundo é mundo, podemos falar no que os entendidos chamam de “teofania” — a manifestação de uma força sobrenatural. Esses episódios, de que todas as culturas estão abundantemente providas, caracterizam-se por um absoluto desprezo das normas convencionais de comportamento. Cada um deles tem o seu tempo, seu lugar, sua peculiaridade; e os veículos humanos que eles atingem também mostram a mais completa diversidade.
Também é curioso que, muitas vezes, esses veículos revelem o que, em termos prosaicos, seria a mais completa inépcia. Eu penso numa camponesa como Bernadette, por exemplo, que, aos 14 anos, na França, teve uma série de visitações da Virgem Maria.
Semianalfabeta, ela era o oposto de uma intelectual. Mas tinha o sólido bom-senso que costumamos atribuir a certa gente do povo. Depois das aparições, ela foi submetida a toda sorte de interrogatórios. Jamais se conseguiu provar que ela delirava, ou inventava; e, na gruta de Lourdes onde a Virgem lhe apareceu, sucederam-se os milagres.
Também estes não servem para provar nada. Não é por aí que as coisas caminham. São apenas sinais na
estrada. O Cristo, aliás, levou ao pé da letra o propósito de não provar nada. Não fez milagres para convencer ninguém, nem para responder aos que o atacavam. Deixou-se levar, como um cordeiro, ao sacrifício; e o que aconteceu depois da sua morte também não foi um evento que repercutisse em praça pública. Soube quem tinha de ficar sabendo.
E assim é com todas as grandes tradições religiosas. Em todas elas, o fenômeno divino está envolto numa nuvem de mistério; no “The Cloud of Unknowing” que é o título de um famoso texto medieval. E, nesse caso, discussões como as que às vezes se propõe são, no mínimo, impertinentes.
LUIZ PAULO HORTA é jornalista."
Mas passou-se muito tempo até que a Igreja reconhecesse os seus erros, e reabilitasse Galileu.
Agora estamos vendo, curiosamente, o fenômeno inverso: cientistas que se pronunciam sobre assuntos de religião, e dizem que, de acordo com seus cálculos e medições, fica excluída a possibilidade da existência
de Deus.
Essa cruzada ao contrário talvez tenha um motivo empírico: a aparição, na nossa época, de correntes ditas
fundamentalistas que apresentam a religião sob o seu pior aspecto.
Assim se destruíram, em nome da religião, as torres gêmeas de Nova York, com a morte de milhares de inocentes. Como uma resposta torta a essa carnificina, tomou corpo, nos EUA do presidente Bush, uma forma de fundamentalismo cristão que fez mal à consciência americana, jogando o país de volta a épocas arcaicas.
Mas, na prática, os fundamentalistas acabam caindo no ridículo por suas próprias atitudes; enquanto declarações de cientistas são, ainda hoje, acolhidas com uma espécie de temor reverencial.
Seria bom, nesse caso, voltar a alguns princípios básicos. A verdade é que ciência e religião trabalham com
instrumentos diferentes, e, por isso mesmo, não deveriam entrar numa conversa de surdos.
A ciência, para obter resultados que dignificam a espécie humana, opera com dados exatos, medições e experiências. É difícil imaginar que assim se chegue perto de uma hipotética divindade.
A percepção do divino passa por outros caminhos. Um deles é o que já se chamou de “intuição intelectual”. É um tipo de visão que não depende do raciocínio discursivo.
Pense em certas manifestações da natureza — por exemplo, o mundo das flores. A mim, pessoalmente, emociona e deslumbra o verificar que, em cada flor, alguém ou alguma coisa estava em busca da perfeição.
Em todas elas, sem exceção, vê-se a procura do detalhe que, segundo Goethe, traía a presença do gênio. Nenhuma delas — muito menos a orquídea — dá a impressão de ser fruto do acaso, o resultado de uma série de adaptações. E o que você pode dizer de uma aplica-se a dezenas, a centenas, a milhares.
Nessa espantosa proliferação de beleza, não há algo a mais do que o acaso? Mas se, daí, você quiser extrair uma verdade científica, fracassará lamentavelmente. Porque o cientista quererá discutir flor a flor; a cada uma, aplicará métodos de raciocínio que se afastam de uma intuição generalizante.
Não, isso não é uma prova da existência de Deus. É só uma intuição. Mas por que ela seria menos válida
do que o raciocínio lógico? Imagine que você está num terrível problema de amor, e que, à sua direita, mora um cientista; à esquerda, uma pessoa em quem você se acostumou a admirar o bom-senso, a percepção psicológica. A qual dos dois você recorrerá, nesse apuro?
A divindade — em que eu acredito — jamais quis conformar-se ao raciocínio lógico. Desde que o mundo é mundo, podemos falar no que os entendidos chamam de “teofania” — a manifestação de uma força sobrenatural. Esses episódios, de que todas as culturas estão abundantemente providas, caracterizam-se por um absoluto desprezo das normas convencionais de comportamento. Cada um deles tem o seu tempo, seu lugar, sua peculiaridade; e os veículos humanos que eles atingem também mostram a mais completa diversidade.
Também é curioso que, muitas vezes, esses veículos revelem o que, em termos prosaicos, seria a mais completa inépcia. Eu penso numa camponesa como Bernadette, por exemplo, que, aos 14 anos, na França, teve uma série de visitações da Virgem Maria.
Semianalfabeta, ela era o oposto de uma intelectual. Mas tinha o sólido bom-senso que costumamos atribuir a certa gente do povo. Depois das aparições, ela foi submetida a toda sorte de interrogatórios. Jamais se conseguiu provar que ela delirava, ou inventava; e, na gruta de Lourdes onde a Virgem lhe apareceu, sucederam-se os milagres.
Também estes não servem para provar nada. Não é por aí que as coisas caminham. São apenas sinais na
estrada. O Cristo, aliás, levou ao pé da letra o propósito de não provar nada. Não fez milagres para convencer ninguém, nem para responder aos que o atacavam. Deixou-se levar, como um cordeiro, ao sacrifício; e o que aconteceu depois da sua morte também não foi um evento que repercutisse em praça pública. Soube quem tinha de ficar sabendo.
E assim é com todas as grandes tradições religiosas. Em todas elas, o fenômeno divino está envolto numa nuvem de mistério; no “The Cloud of Unknowing” que é o título de um famoso texto medieval. E, nesse caso, discussões como as que às vezes se propõe são, no mínimo, impertinentes.
LUIZ PAULO HORTA é jornalista."
quarta-feira, dezembro 15, 2010
Nota Sobre Manipulação.
Primeiramente, gostaria de justificar minha ausência por um considerável período de tempo. Estou na reta final de uma maratona de vestibulares, por isso não tive tempo de refletir e escrever algo aqui. Sem notas por um tempo, mas hoje desejei publicar mais um post nesse quase esquecido blog.
Proponho uma discussão um tanto breve acerca de manipulação. Observo ao redor a frequência com que falam sobre tal tema, as vezes de uma forma tão simplista: "isso é manipulação de massa", "o governo manipulou a população para conseguir votos, dá isso...dá aquilo". Discordo. O conceito de manipulação, na minha humilde opinião, requer mais atenção à sua complexidade.
Afirmar que o Estado ou que a mídia forçam o indivíduo a agir de forma compulsória é facilmente refutável. Até onde sei, tais aparatos não possuem influência direta sobre nossas ações. Concorda? Vejamos, pois, que se adotarmos tal idéia, renegamos consequentemente a consciencia humana e a capacidade de escolhas que possuímos. ( Digo escolhas, mas de forma limitada. Refiro-me ao "livre arbítrio" confinado nas possibilidades disponibilizadas pelo contexto em que se vive. Enfim, a seleção entre elementos de um universo subdividido, uma liberdade cerceada.)
Nesse sentido, cabe ressaltar a teoria defendida por Joseph Thomas Klapper - no caso da comunicação coletiva. Klapper afirmava que a mídia não provocava uma mudança direta no pensamento humano, pois a modificação de ponto de vista está condicionada a inclinação pessoal à aceitação do material exposto ao público. Ademais, observou também que a cosmovisão de cada persona era adaptada pelo grupo pertencido - família, igreja, escola, etc.
Sendo assim, é um tanto ignorante atribuir a culpa do consumismo apenas às propagandas. Elas não forçam a compra, correto? As pessoas assimilam a recompensa ( reconhecimento, poder, etc) que receberão devido ao consumo de tal artigo ou seviço. A compra ocorre para satisfação individual, logo, percebe-se a atividade cerebral humana agindo para receber o que deseja, sem intervenção direta de âmbito externo.
No entanto, as comunicações de massa possuem atuação mais influente ao tratarem de temas desconhecidos, sobre os quais a população não possui uma opinião fixa previamente formada.
Quanto à manipulação do povo por parte do Estado, foi um temo recorrente neste ano de eleições. Acusações de governantes como populistas e "manipuladores de pobres" borbulharam da boca de muita gente. É comum, desde a Era Vargas, o uso de tais expressões. Entretanto, mais uma vez caímos no mesmo erro, a mania de ser simplista. Dando nomes aos bois, comparemos, então, Vargas e Lula.
Sobre a Era Vargas (1930-1945), por muito tempo foi "correto", ou pelo menos usual, caracterizar o trabalhador como passivo frente ao Estado varguista. Atualmente, compreende-se o equívoco presente nessa concepção. O que realmente ocorria era o que hoje foi entitulado (por um acadêmico de História da UFF) como "Troca Simbólica". Ou seja, os operários urbanos (pois naquela época os trabalhadores rurais estavam excluídos dos benefícios concedidos) submetiam-se ao governo porque este atendia à certa parcela de suas reivindicações. Apoiar um governo que oferece a você o que deseja não é se deixar manipular.
O mesmo ocorreu no caso Lula (2002-2010), tanto para sua reeleição quanto para Dilma - sua indicação ao cargo presidencial, que venceu as últimas eleições. Muito se discutiu sobre a manipulação dos votos das camadas populares (e preconceituosamente dos nordestinos, mas isso já foi assunto de outro post). Mais um equívoco. Utilizando da máxima defendida pelo sistema capitalista neoliberal de que cada um deve lutar por seus interesse, por que aqueles que se sentiram beneficiados com o governo não votariam nele? Assim como no caso varguista, um bom termo para isso seria, novamente, "troca simbólica". É um jogo de interesses, de mão dupla. Do Estado para o povo, do povo para o Estado.
Portanto, culpar um fator externo como controlador de atitudes pessoais é a forma mais fácil de destituir a culpa de si mesmo. Cada um é o manipulador de suas próprias ações. Daí se você é mais influenciável ou não, é uma idiossincrasia. O fato é que só quem pode fazer a escolha é você mesmo. Por isso, escolha bem.
Abraços.
Proponho uma discussão um tanto breve acerca de manipulação. Observo ao redor a frequência com que falam sobre tal tema, as vezes de uma forma tão simplista: "isso é manipulação de massa", "o governo manipulou a população para conseguir votos, dá isso...dá aquilo". Discordo. O conceito de manipulação, na minha humilde opinião, requer mais atenção à sua complexidade.
Afirmar que o Estado ou que a mídia forçam o indivíduo a agir de forma compulsória é facilmente refutável. Até onde sei, tais aparatos não possuem influência direta sobre nossas ações. Concorda? Vejamos, pois, que se adotarmos tal idéia, renegamos consequentemente a consciencia humana e a capacidade de escolhas que possuímos. ( Digo escolhas, mas de forma limitada. Refiro-me ao "livre arbítrio" confinado nas possibilidades disponibilizadas pelo contexto em que se vive. Enfim, a seleção entre elementos de um universo subdividido, uma liberdade cerceada.)
Nesse sentido, cabe ressaltar a teoria defendida por Joseph Thomas Klapper - no caso da comunicação coletiva. Klapper afirmava que a mídia não provocava uma mudança direta no pensamento humano, pois a modificação de ponto de vista está condicionada a inclinação pessoal à aceitação do material exposto ao público. Ademais, observou também que a cosmovisão de cada persona era adaptada pelo grupo pertencido - família, igreja, escola, etc.
Sendo assim, é um tanto ignorante atribuir a culpa do consumismo apenas às propagandas. Elas não forçam a compra, correto? As pessoas assimilam a recompensa ( reconhecimento, poder, etc) que receberão devido ao consumo de tal artigo ou seviço. A compra ocorre para satisfação individual, logo, percebe-se a atividade cerebral humana agindo para receber o que deseja, sem intervenção direta de âmbito externo.
No entanto, as comunicações de massa possuem atuação mais influente ao tratarem de temas desconhecidos, sobre os quais a população não possui uma opinião fixa previamente formada.
Quanto à manipulação do povo por parte do Estado, foi um temo recorrente neste ano de eleições. Acusações de governantes como populistas e "manipuladores de pobres" borbulharam da boca de muita gente. É comum, desde a Era Vargas, o uso de tais expressões. Entretanto, mais uma vez caímos no mesmo erro, a mania de ser simplista. Dando nomes aos bois, comparemos, então, Vargas e Lula.
Sobre a Era Vargas (1930-1945), por muito tempo foi "correto", ou pelo menos usual, caracterizar o trabalhador como passivo frente ao Estado varguista. Atualmente, compreende-se o equívoco presente nessa concepção. O que realmente ocorria era o que hoje foi entitulado (por um acadêmico de História da UFF) como "Troca Simbólica". Ou seja, os operários urbanos (pois naquela época os trabalhadores rurais estavam excluídos dos benefícios concedidos) submetiam-se ao governo porque este atendia à certa parcela de suas reivindicações. Apoiar um governo que oferece a você o que deseja não é se deixar manipular.
O mesmo ocorreu no caso Lula (2002-2010), tanto para sua reeleição quanto para Dilma - sua indicação ao cargo presidencial, que venceu as últimas eleições. Muito se discutiu sobre a manipulação dos votos das camadas populares (e preconceituosamente dos nordestinos, mas isso já foi assunto de outro post). Mais um equívoco. Utilizando da máxima defendida pelo sistema capitalista neoliberal de que cada um deve lutar por seus interesse, por que aqueles que se sentiram beneficiados com o governo não votariam nele? Assim como no caso varguista, um bom termo para isso seria, novamente, "troca simbólica". É um jogo de interesses, de mão dupla. Do Estado para o povo, do povo para o Estado.
Portanto, culpar um fator externo como controlador de atitudes pessoais é a forma mais fácil de destituir a culpa de si mesmo. Cada um é o manipulador de suas próprias ações. Daí se você é mais influenciável ou não, é uma idiossincrasia. O fato é que só quem pode fazer a escolha é você mesmo. Por isso, escolha bem.
Abraços.
quarta-feira, dezembro 01, 2010
Nota sobre relacionamentos/ expectativas
Para quem já assistiu ao filme '500 Days of Summer' (ou, em português, 500 dias com ela) deve estar começando a entender o que quero dizer com essa imagem e com o título do post. Muito simples, gostaria de me certificar de que não sofro desse problema sozinha.
Vou usar a primeira pessoa do singular, pois somente expondo dessa forma posso comprovar conhecimento de causa. Não sou uma pessoa lacônica - aprendi essa palavra recentemente e quer dizer "breve resumida, concisa, exata" -, dou voltas para tentar explorar melhor a situação antes de um possível clímax. Essa é a melhor maneira que encontro para dizer o que quero e da forma que me apetece.
Talvez isso que escrevo já tenha acontecido com você. Talvez não. Nessa situação, não creio que exista muita disparidade entre homens e mulheres - o filme 500 days of summer, por exemplo, pode ser catártico para ambos os sexos.
Para mim, projetar expectativas nas pessoas já é algo corriqueiro, comum em grande parte das vezes - principalmente em relacionamentos que não vingam. Sei que não é o melhor a fazer, mas não controlo minha mente(é, as vezes ela é um caos). Isso ocorre de forma tão exagerada que chego a criar um personagem completamente diferente da pessoa real, mas são mais raras essas ocasiões ( esses casos apresentam-se mais em alguma forma de 'amor platônico', coisa de algum tempo atrás, mais infanto-juvenil).
Na verdade, faz certo tempo que não "trabalho" mais em modificações e reconfigurações de personalidades. Agora meu ramo é outro: acontecimentos. Assim como o protagonista do filme, Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt), eu crio muitas expectativas em encontros e acontecimentos - se quiser assistir ao trecho do filme, clique aqui.
Como você pode estar percebendo, afogar-se -de propósito- em um mar de ilusões é procurar frustrações. A estória, então, não poderia tomar outro rumo senão esse. Frustrações com relacionamentos que não acontecem, com situações que fogem daquilo que foi imaginado, com condições adversas que provocam constrangimentos... Eu poderia citar inúmeras outras consequências, mas preferi começar a entender o porquê faço isso e tentar melhorar.
Depois que deixei para trás as idéias cristalizadas e falsas dos romances perfeitos e das comédias românticas clichês de finais felizes previsíveis, tornou-se mais fácil entender o que devo fazer daqui para frente. Entendo melhor, hoje, que a função dessas projeções em outras pessoas era servir como escudo para o meu medo de envolvimentos afetivos; medo de dependência amorosa.
Ainda tenho medo desse último, não creio que seja saudável para uma relação - assim como o ciúmes que para mim não tem nada a ver com amor, sim com posse do outro. Temo entender-me como metade e procurar uma outra para que me complete, tal tese é defendida pela maioria das idéias românticas que conheço. Entretanto, não sei se consigo compreender minha totalidade, adotar outra tese: preciso de um companheiro/parceiro e não uma tampa para minha panela, a metade da minha laranja. Desde que me entendo por gente, sei que sou completa. Acho que não falta nenhum pedaço, metaforicamente falando, em mim, mas é difícil reconhecer-se completo.
Acho que é isso.
Então, se ainda não assistiu ao longa sobre o qual falei tanto no post, assista. Se já assistiu, ou só leu o post e viu o vídeo, reflita. Diga-me: o que acontece com você?
P.S.: Ainda esperava o dia em que alguém abriria meus olhos cantando uma música da pitty que demorei muito tempo até gostar e entender que serve de fala às pessoas que sofrem as expectativas: Não é minha culpa sua projeção... (Pitty - me adora).
Eu que tenho que resolver isso. - Não, não é nada com você. O problema é/era comigo.
Beijos & Abraços. Tenham um bom dia e perdoem o excesso de subjetividade.
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