Primeiramente, gostaria de justificar minha ausência por um considerável período de tempo. Estou na reta final de uma maratona de vestibulares, por isso não tive tempo de refletir e escrever algo aqui. Sem notas por um tempo, mas hoje desejei publicar mais um post nesse quase esquecido blog.
Proponho uma discussão um tanto breve acerca de manipulação. Observo ao redor a frequência com que falam sobre tal tema, as vezes de uma forma tão simplista: "isso é manipulação de massa", "o governo manipulou a população para conseguir votos, dá isso...dá aquilo". Discordo. O conceito de manipulação, na minha humilde opinião, requer mais atenção à sua complexidade.
Afirmar que o Estado ou que a mídia forçam o indivíduo a agir de forma compulsória é facilmente refutável. Até onde sei, tais aparatos não possuem influência direta sobre nossas ações. Concorda? Vejamos, pois, que se adotarmos tal idéia, renegamos consequentemente a consciencia humana e a capacidade de escolhas que possuímos. ( Digo escolhas, mas de forma limitada. Refiro-me ao "livre arbítrio" confinado nas possibilidades disponibilizadas pelo contexto em que se vive. Enfim, a seleção entre elementos de um universo subdividido, uma liberdade cerceada.)
Nesse sentido, cabe ressaltar a teoria defendida por Joseph Thomas Klapper - no caso da comunicação coletiva. Klapper afirmava que a mídia não provocava uma mudança direta no pensamento humano, pois a modificação de ponto de vista está condicionada a inclinação pessoal à aceitação do material exposto ao público. Ademais, observou também que a cosmovisão de cada persona era adaptada pelo grupo pertencido - família, igreja, escola, etc.
Sendo assim, é um tanto ignorante atribuir a culpa do consumismo apenas às propagandas. Elas não forçam a compra, correto? As pessoas assimilam a recompensa ( reconhecimento, poder, etc) que receberão devido ao consumo de tal artigo ou seviço. A compra ocorre para satisfação individual, logo, percebe-se a atividade cerebral humana agindo para receber o que deseja, sem intervenção direta de âmbito externo.
No entanto, as comunicações de massa possuem atuação mais influente ao tratarem de temas desconhecidos, sobre os quais a população não possui uma opinião fixa previamente formada.
Quanto à manipulação do povo por parte do Estado, foi um temo recorrente neste ano de eleições. Acusações de governantes como populistas e "manipuladores de pobres" borbulharam da boca de muita gente. É comum, desde a Era Vargas, o uso de tais expressões. Entretanto, mais uma vez caímos no mesmo erro, a mania de ser simplista. Dando nomes aos bois, comparemos, então, Vargas e Lula.
Sobre a Era Vargas (1930-1945), por muito tempo foi "correto", ou pelo menos usual, caracterizar o trabalhador como passivo frente ao Estado varguista. Atualmente, compreende-se o equívoco presente nessa concepção. O que realmente ocorria era o que hoje foi entitulado (por um acadêmico de História da UFF) como "Troca Simbólica". Ou seja, os operários urbanos (pois naquela época os trabalhadores rurais estavam excluídos dos benefícios concedidos) submetiam-se ao governo porque este atendia à certa parcela de suas reivindicações. Apoiar um governo que oferece a você o que deseja não é se deixar manipular.
O mesmo ocorreu no caso Lula (2002-2010), tanto para sua reeleição quanto para Dilma - sua indicação ao cargo presidencial, que venceu as últimas eleições. Muito se discutiu sobre a manipulação dos votos das camadas populares (e preconceituosamente dos nordestinos, mas isso já foi assunto de outro post). Mais um equívoco. Utilizando da máxima defendida pelo sistema capitalista neoliberal de que cada um deve lutar por seus interesse, por que aqueles que se sentiram beneficiados com o governo não votariam nele? Assim como no caso varguista, um bom termo para isso seria, novamente, "troca simbólica". É um jogo de interesses, de mão dupla. Do Estado para o povo, do povo para o Estado.
Portanto, culpar um fator externo como controlador de atitudes pessoais é a forma mais fácil de destituir a culpa de si mesmo. Cada um é o manipulador de suas próprias ações. Daí se você é mais influenciável ou não, é uma idiossincrasia. O fato é que só quem pode fazer a escolha é você mesmo. Por isso, escolha bem.
Abraços.
quarta-feira, dezembro 15, 2010
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