Como escreveu o grande poeta modernista Oswald de Andrade, no Manifesto Pau-Brasil de 1925: "A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos." É sobre isso que pretendo discutir hoje. Depois de tanto tempo sob uma carcaça piegas do português burocrático e comedido, escrevendo segundo as normas gramaticais, venho manifestar meu apreço pela língua do cotidiano. O brasileirismo.
Longe de ser uma revolucionária como os modernistas da primeira fase ou uma defensora fanática da linguagem livre, apresento apenas um ponto de vista sobre a representação e influência da coloquialidade para partes ainda mais intrínsecas e subjetivas do ser humano - no caso, do brasileiro.
Não sei como pode estar entendendo este post, mas imagine. O que seria do 'Eu te amo' sem o erro de colocação pronominal? O falar errado para dizer certo. Será que 'amo-te' soaria tão calorosamente amoroso e verdadeiro? Demonstraria sob as rédeas da norma culta o sentimento popular, mesmo mascarado, envergonhado pela possibilidade do desvio pronominal?
Pessoalmente, agrada-me o uso dos 'vocês' - e da frase popular dos apaixonados com pequena alteração para "eu amo você". A compreensão do não-julgamento do erro alheio, a despreocupação quanto à forma devido à intimidade dos indivíduos presentes na conversa, o tratamento informalizado...
Talvez esse não tenha sido um tema intrigante, todavia gostei de entender a contribuição da qual Oswald tanto falou. Os tantos erros necessários para caracterizarmos corretamente o que somos e o que queremos expressar.
Boa noite.
quinta-feira, dezembro 30, 2010
"A contribuição milionária de todos os erros"
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1 comentários:
Postagem muito interessante. Nâo conhecia as considerações de Oswald sobre o tema, apesar de já ter lido uma coisa ou outra do professor Marcos Bagno.
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