sexta-feira, julho 01, 2011

Um amor para espíritos livres

Pois que ao som de Divano (Era), inicio agora a redação de um novo post. Novo será apenas o post, o tema já foi visto algumas vezes aqui, mas é infinito, como as tentativas de descobrir o que seria esse sentimento...  
Sim, “ah, o amor”, porém não assim, cheio de “aaaah”, florearei menos para mostrar melhor o que penso a respeito. Aviso antecipadamente, que você, querido leitor, talvez discorde de tudo que direi. Respeitarei também a sua opinião.
Há algumas semanas, li um artigo escrito por um amigo – agradeço ao André por apresentar-me seu texto - e me veio à tona uma vontade irrefreável de escrever sobre o que acredito com relação ao amor.  Infelizmente, minha irmã, que é meu braço e minha perna direita, não poderá revisar o texto de hoje. Assim, sinto-me no dever de pedir desculpas prévias pelos possíveis erros gramaticais e de digitação, nunca tenho paciência para as devidas revisões- mas não me alongarei nisso, não cabe ao assunto.
Não vejo muitos caminhos para fugir do clichê, mas farei o possível  (:
Acredito, e isso é sim muito pessoal, em um amor libertário. Por isso, custo a entender certas formas de amor que tentam me fazer engolir: relações com níveis de ciúmes excessivos, obsessões amorosas... Não desce por minha garganta. Sinceramente, evito classificar isso como amor. Aprecio minha liberdade – tenho muito amor à ela, tanto que não suportaria um relacionamento assim.  Da mesma forma, não acredito naquele amor indiferente; indiferença não é amor. Então, trato do que me parece cabível classificar como o inclassificável sentimento de amar : o amor que não é “muleta”, que não é mero fruto da rotina, que não é comodismo, nem é avassalador, que não pensa na posse do outro... Classifico, pois, o amor companheiro, edificante, aquele que faz a somar dois indivíduos bastantes em si, mas que procuram outro alguém a fim de compartilhar os bons e maus momentos. Nesse sentido, trato o amor de maneira geral, não especificamente entre casais. Seria bom dissertar mais sobre esse amor mais amplo, mas eu sairia parcialmente do tema proposto...
Gosto de partilhar da idéia de que o amor pode dar-se de inúmeras formas, dependendo dos momentos e pessoas que o celebram. Um casal harmonioso hoje, pode ser um “fiasco” amanhã. Viva a inconstância, a contingência da vida...
 Não creio ser isso algo ruim, se não permaneceram a jornada em harmonia, que sigam suas novas vidas felizes, ainda que com outras pessoas. Há tanto para se descobrir nesse mundo...É melhor  tornar-se mais próximo  daquele que irá ajudá-lo a ver o mundo de forma mais ampla, não dos que irão fechar as portas e janelas de forma a atrapalhar sua visão... Por isso acho que amor é também liberdade. Amor, na minha concepção, serve para crescimento, mesmo as desilusões e frustrações que insistem em tornarem-se seus acompanhantes inseparáveis. 
Claro que é muito possível que discordem do que foi escrito, está ficando subjetivo demais... no me gusta. Termino, então, sem respostas nem receitas de bolo. O amor é humano, diverso como nós – prefiro acreditar que temos a liberdade para sermos felizes e compartilharmos do amor da melhor que podemos.
Deixo então aos possessivos, as restrições; às mercenárias, deixo as jóias; aos ciumentos, a dúvida; aos demasiadamente sonhadores, o amor platônico; e ao meu amor, deixo a liberdade e a confiança.
OBS: o TÍTULO do post é uma remodelação do subtítulo da obra de Friedrich Nietzsche, Humano demasiado humano, cujo subtítulo original é “um livro para espíritos livres”.
Beijos, até.
Texto redigido no mês de junho, com atraso de publicação.
Agradecimentos especiais ao Leandro por ter tido paciência para ler
e comentar sobre o texto comigo, obrigada pela força (:


terça-feira, junho 14, 2011

São tempos difíceis para os sonhadores...

"Les temps sont durs pour les rêveurs"

Le Fabuleux Destin D'Amélie Poulain (O fabuloso destino de Amélie Poulain), 2001, é um filme francês dirigido por Jean-Pierre Jeunet. E não, caros leitores, não estou aqui para fazer uma resenha, nem spoiler. Conto apenas com certo nível de sensibilidade e observação do conteúdo da obra. Confesso que fiquei muito encantada com inúmeras coisas nesse filme: a abordagem, a fotografia, a narração... Senti-me uma Amélie Poulain por vezes também incontáveis.

Talvez eu possa dizer, talvez até com alguma certeza, que transito novamente. Particularmente, fazendo uso de sementes lançadas por esse filme. Isso pode parecer clichê, mas não o é, posto que algumas dessas sementes fertilizaram-se em mim. Ronovando-me mais uma vez. Outra vez retomo o que disse Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas: "Lembra-vos ainda a minha teoria das edições humanas? Pois sabei que, naquele tempo, estava eu na quarta edição, revista e emendada, mas ainda inçada de descuidos e barbarismos." Então, estou na quarta.

Tenha calma, leitor, vou colocá-lo a par da situação. O que me ocorreu foi talvez certo tipo de epifania. Essas coisas simples que fazem todo o sentido. Sim, nada mais que uma - deixa-me ver...- estranha mistura de catarse e epifania. Sim, é isso. Uma menina elucidando-se sobre o prazer do cotidiano, do ato de surpreender - aos outros e a si-, da beleza da vida. A fotografia do filme e o enredo que prioriza os aspectos mais simples e que passam tantas vezes despercebidos por nós são os fatores que ajudaram a tornar espetacular este longa neocult.

Enfim, sei que estou diferente. Não só pelo filme, seria um exagero assim dizer. Falo pela tranquilidade. Ainda pela maior disposição em servir de variadas formas para o aprimoramento de algo, pessoa, obejto... Essa vontade de sugar o prazer das situações banais da rotina. Toda essa pressa de sentimentos que eu calei por um tempo que já não consigo mensurar. Sai de mim agora aquele sorriso mais leve, um otimismo leve, bons frutos estãopor vir...  Lembro-me mais de moderar minhas ações e, principalmente, moderar minhas moderações. Uma pessoa mais lúcida com o poder do sonho, talvez... Um alívio com a natureza humana, e só.

De qualquer forma, deixo o trailer logo abaixo para os mais curiosos. :)


Mas é aquela velha história... Nem sempre o que é bom para mim é bom para o outro também. Pode ser que seja apenas "mais um filme" na visão de alguns. Que seja! Esta aí a graça.

Beijos, boa noite.

segunda-feira, junho 13, 2011

Apontamentos sobre o Dia dos Namorados

Sim, sei que já se passou. Foi ontem, certamente. Entretanto, desejo comentar o assunto hoje, não estou muito atrasada, ainda há resquícios da data "in the air", as juras de amor de ontem ainda valem para hoje, talvez...

Pretendo começar com a origem. Afinal, por que o Dia dos Namorados no Brasil não é em 14 de fevereiro como na maioria dos países - que comemoram o Valentine's Day?
Simples, a data foi modificada pela proximidade com o dia de Santo Antônio, conhecido santo casamenteiro (comemorado hoje, dia 13 de Junho). Ademais, escolheram o mês de junho pela baixa das vendas. Observa-se que fizeram uma boa escolha de data pois atualmente o dia dos namorados é a 3° data comemorativa mais rentável para o comércio.
E sobre a data "original", correspondente ao dia de São Valentim, deu-se devido a morte do mesmo no dia 14 de fevereiro. Valentim era um bispo católico que celebrava casamentos, mesmo a contragosto do Rei. Foi condenado por isso e enquanto estava na prisão, cumprindo sua sentença, se apaixonou pela filha de um  carcereiro. Dizem que a moça era cega e que o bispo, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Por fim, quando estava por ser executado, Valentim escreveu uma mensagem para sua amada, "na qual assinava como 'seu namorado' ou 'de seu Valentim'".

Feita a introdução, gostaria ainda de tecer alguns comentários para o que notei nos últimos dias, às vésperas da celebração nacional do amor... Será que sou estranha, ou essa data está mesmo sem muito sentido? Mera troca de presentes. Reconfigurada, como outras que sabemos. Creio que a iniciativa capitalista venceu de novo, para a alegria dos comerciantes. O desespero dos namorados, entrando em lojas incontáveis, procurando o perfume da última coleção para dia dos namorados. O boticário, lotado. Uma fila de namorados com a mesma sacola e o mesmo conteúdo. Imaginarium igualmente, presentes padronizados, os quais "qualquer mulherzinha amaria".Tudo isso pra que? Mas seu amor não é especial? Não parece...

Sempre gostei mais dos presentes simbólicos, alternativos, especiais. Não, não digo jóias - deixo isso para os comentários das mercenárias, não meus. Eu gosto de rosa, não rosas. Uma, única e singular. Se eu recebesse um conjunto com 10, 15, sabe-se lá quantas, não conseguiria observar calmamente nem 2 delas. Dá-me uma, apenas. É o bastante para analisar, cheirar, tocar e ver sucumbir até a perda da última pétala... Eu gosto de originalidade, padronização demais me faz sentir como mais uma, no meio de tantas... Fico insegura. Eu prefiro comer em casa, seja lá o que for, preferência por algo feito por nós, dividimos a tarefa. Que tal? Não precisa gastar rios de dinheiro numa conta de restaurante, isso não é justo. Lá nem conseguimos ficar a vontade. Não necessita disso...


Mas por que estou falando nisso? Ora, não faço idéia. Não sei mais. Não faz sentido.
Nenhum.


"Aurea Mediocritas", uma rosa...
    Beijos.

quarta-feira, junho 01, 2011

Breve Invasão Lírica (II)

Depois de uma primeira "invasão" lírica, apresenta-se aqui a segunda delas. O tema é diversificado, como já era de se esperar, eu não falaria sobre um mesmo objeto em dois posts diferentes.



" A cada tempo um pensamento, veria nisso uma atitude natural. Por que me limitam? Não me permitem mudar... Ora, pois que não me aguento mais presa nessas travas antigas, preciso de nova reconfiguração. Necessito dessa sequência ininterrupta de mutações. Só assim consigo ser quem sou, ou quem não sou. Pois se me perco, cá estou, mas se me acho, não me encontro mais. Não, e nunca estarei madura, me renovo a cada momento. Quem muito amadurece, logo torna-se morto. Por hora, quero a morte longe.

Não vivo mais acorrentada aos tempos de 'ontem', deixo-o ir com o raiar do dia. O 'hoje' exige de mim um alguém diferente. Não evoluo, também não fico estagnada, transformo-me como numa reta horizontal. Não há começo e não há fim, nem topo, nem inferioridade. Há mudança e só. Há inconstância, e muito. Há um tanto de mim, em variadas formas. "

- O que sou, Mudança.
(Texto e Fragmento por Gisele Freire)

terça-feira, maio 31, 2011

Tempos de crise, a solução.

    Como bem pode ser notado, o conceito de crise é vastamente empregado em diversas áreas do conhecimento. Entretanto, utilizamos o termo com significância vaga, com certa manifestação personificada. "Culpa da crise", "Graças a crise", ou "Devido a crise", mas que crise é essa? Tão cheia de si, tão presente e perturbadora. É mais fácil atribuir a culpa a um terceiro, mesmo que inexistente, não é? Aí entra a  visão de "crise" que criamos com tanto esmero para ser culpada oficial de nossas fraquezas.
    Por que ela e não "nós"? Sim, pois a crise é o meio perpassado por nossas atitudes. Por que não nos culpamos? Para isso, vale fazer a leitura de um exerto interessante a cerca da 'Crise' segundo Albert Einstein

Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo.A crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos.A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar "superado".
Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas que as soluções. A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito.
É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la."

Nesse sentido, tomando como norteador o texto apresentado, o que mais é a crise além de uma obstáculo pronto para ser ultrapassado? Creio que o sentido de crise de Einstein sirva para inúmeros âmbitos de sua aplicação, desde a área financeira até crises de cunho existencial. Termino dizendo - ou melhor reproduzindo o que disse um dos maiores ícones da literatura brasileira, Guimarães Rosa - "a vida é assim [...] o que ela quer da gente é coragem".

Coragem leitores, muita coragem.
Abraços.

sábado, maio 21, 2011

Dancing in the moonlight...

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos
por aqueles que não podiam escutar a música."
( Friedrich Nietzsche)

Talvez alguns reparem, outros não, mas esse título veio de certo modo especial. Até preferi retirar o "nota" como enunciador do post e suponho que seja o primeiro título em inglês,no caso, refere-se à musica que eu estava a escutar segundos antes de iniciar a escrever (Tradução: "dançando à luz da lua").

Creio que me preocupava tanto em falar sobre algo que considerasse interessante que me esqueci de postar sobre o que amo. Não lembro quem era essa pessoa que vos fala antes da dança.  Sim, pois desde meus três anos ou menos, já arriscava passinhos numa roda de adultos/parentes...Como podem perceber, esse post tratará da mais antiga das artes praticadas pelo ser humano: a Dança.
Ora, não compreendo as pessoas que dizem não saber dançar... Dança é a obediência a um ritmo interno que se exterioriza para expressar nossas emoções. Dançamos muitas vezes sem reparar, ao caminhar mais feliz ou mesmo ao gesticular movimentos de agradecimento, alegria, etc. A música? Sim, é uma bela acompanhante, como ficam bem juntas, porém a dança não é sua dependente. O que se toma por imprescindível  é o sentimento, a expressividade, enfim, o coração.
O simples ato de mover-me com gestos dançantes- tendendo agora a um caso particular, o meu- já trás a tona a essência do que realmente sou. Nisso, parece que a espiritualidade também se conecta à dança e de tal forma que representava (e ainda representa para muitos povos) uma forma única de devoção e agradecimento a um Ser Divino em suas mais variadas formas.
Além disso, é preciso recuperar a lembrança da importância 'elemento dança' para o amor/paixão (mais uma vez, falo de dança, amor e paixão de forma abrangente, sem a exclusão das coreografias populares e dos "amores de um dia"). Já repararam o quanto se aprende sobre uma pessoa simplesmente pelo seu modo de se portar em uma dança qualquer? O "pisão" no pé seguido de um pedido de desculpas e um sorriso podem avaliar muito mais o humor e certos traços do caráter de um indivíduo que uma situação, muitas vezes forçada, do dia-a-dia; o romantismo da leveza de se deixar conduzir; a beleza/sensualidade exalada com a expressividade do corpo,etc. Por esses exemplos e tantos outroa, não há dúvidas do poder dessa arte para um casal.

Muito me entristece, atualmente, o certo preconceito com as pessoas que se declaram apaixonadas por dança. Ora, ser apaixonado por isso é adorar a vida, com cada movimento e detalhe. Esquecem-se do fortalecimento da auto-estima, do aprimoramento físico e psicológico, da contribuição para concentração e confiança- em si e no parceiro.

Não tenho a menor pretensão científica na abordagem desse tema, também não pretendi analisar nada. Nunca conseguiria descrever o que a dança representa para mim. Impossível seria. Beijos, amigos.


sexta-feira, abril 15, 2011

Nota sobre desaparecimento

Releve o título. Não foi isso que quis dizer, nada desapareceu. Aqui estou novamente, com essa vontade de escrever que me engole. Acho que precisei desse tempo ausente daqui, para entender mais sobre o que devia escrever ou sobre o que eu realmente quero falar. O problema e que ainda não sei, mas essa necessidade me consome. Aproveitei o tempo fora para compreender o que me falta. Não sei se obtive êxito na busca, talvez isso seja uma eterna procura...
Enfim, não quero alongar-me demais, estou sem idéias no momento. Caso alguem me inspire a escrever sobre certo assunto, seria de bom agrado acolher a sugestão.
Enquanto isso, fico aqui a tentar desvendar de quem é a mão avulsa que reproduzo, qual o rosto que penso necessitar e de que "terceira perna" me livrei - só sei que nao esta mais comigo. ( Esse trecho relaciona-se com o post anterior "Fragmento Relevante de A Paixão segundo G.H.")

Abraços, tenham um bom dia :)

"Todo momento de achar é um perder-se a si próprio."
Clarice Lispector

segunda-feira, março 21, 2011

Fragmento relevante de "A paixão segundo GH"

'Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, se sem sequer precisar me procurar. (...)

Não contava que fosse esse grande desencontro. (...)

Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão. (...)

Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão.
Oh, pelo menos no começo, só no começo. Logo que puder dispensá-la, irei sozinha. Por enquanto preciso segurar esta tua mão – mesmo que não consiga inventar teu rosto e teus olhos e tua boca. Mas embora decepada, esta mão não me assusta. A invenção dela vem da ideia de amor como se a mão estivesse realmente ligada a um corpo que, se não vejo, é por incapacidade de amar mais. Não estou à altura de imaginar uma pessoa inteira porque não sou ma pessoa inteira. E como imaginar um rosto se não sei de que expressão de rosto preciso? Logo que puder dispensar tua mão quente, irei sozinha e com horror. O horror será a minha responsabilidade até que se complete a metamorfose e que o horror se transforme em claridade. Não a claridade que nasce de um desejo de beleza e moralismo, como antes mesmo sem saber eu me propunha; mas a claridade natural do que existe, e é essa claridade natural o que me aterroriza. Embora eu saiba que o horror – o horror sou eu diante das coisas.
Por enquanto vou inventando a tua presença, como um dia também não saberei me arriscar a morrer sozinha. (...)

Clarice Lispector

domingo, janeiro 30, 2011

Nota Sobre Sentimentos Antitéticos e Complementares

Imagino que algum dia muitos de nós tenhamos refletido acerca da necessidade da existência dos opostos para a confirmação dos mesmos: a importância do vilão para a identidade do herói, do mal para fortalecer a bondade do bem - não se preocupe, foi um pleonasmo pensado- e de tantos outros exemplos possíveis. Apesar do título parecer um tanto genérico, o post não o será.

Vejamos, então, com a ajuda da boa e sempre remodelada Literatura Brasileira, o caso do sentimento de dor e do prazer:

"Deixei-o nessa reticência, e fui descalçar as botas, que estavam apertadas. Uma vez aliviado, respirei à larga, e deitei-me a fio comprido, enquanto os pés, e todo eu atrás deles, entrávamos numa relativa bem-aventurança. Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da Terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro. Enquanto esta idéia me trabalhava no famoso trapézio, lançava eu os olhos para a Tijuca, e via a aleijadinha perder-se no horizonte do pretérito, e sentia que o meu coração não tardaria também a descalçar as suas botas. E descalçou-as o lascivo. Quatro ou cinco dias depois, saboreava esse rápido, inefável e incoercível momento de gozo, que sucede a uma dor pungente, a uma preocupação, a um incômodo... Daqui inferi eu que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome, com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre. Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas."
 ( Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis - Capítulo XXXVI: A propósito de botas)

Creio que após tal texto não seja necessário explicações muito alongadas. Senhor Machado de Assis cumpriu muito bem seu papel de autor-filósofo. Mudemos, pois, o rumo tomado. Utilizando-nos de uma das vertentes oferecidas pelas idéias do fragmento, podemos compreender que onde há dor, simultanea ou posteriormente, revela-se a presença do prazer. Sendo assim, faz-se necessário encarar os sentimentos desagradáveis que causam desconforto - seja psicologico ou fisico -, para que possamos usufluir da leveza de tê-los enfrentado. Como pode saber que sente prazer/alívio aquele que não sofreu com a dor?

Seria análoga à conclusão (ineficaz) de que é feliz aquele que não passa por turbulências. Como podem pensar de tal maneira? O indivíduo que se refugia, se esconde e foge dos infortúnios da vida nem merecedor de felicidade deveria ser.O homem que encontra-se constantemente em situações de tristeza está mais apto para fazer o reconhecimento do que é alegre, ‘feliz’.

Ainda, levando em consideração que as fases da vida são cíclicas – umas são apenas mais longas que outras-, poderíamos entender a estagnação na alegria ou tristeza como um entrave para uma vida realmente feliz. Logo, em um sistema ainda mais elaborado, a felicidade é dependente da transição das fases e as fases são dependentes entre si para que surtam algum tipo de “efeito positivo”.

Quão triste seria uma vida sem abalos, adversidades e pequenas mudanças de rumo repentinas. Quão dolorosa seria uma vida somente de gozos, risadas e alegrias. Acredito ser essa a pior forma de ser infeliz.
A presença do ruim faria o bom ainda melhor.

Pensem nisso - ou não-, mas pensem.
Beijos
Gisele Freire

sábado, janeiro 29, 2011

Nota sobre 'Ciência Preconceituosa'

Uma matéria-entrevista publicada pela REVISTA GALILEU desse mês, escrita por Tiago Cordeiro, pareceu-me muito interessante. Vale a pena ser difundida!

“Existem questões fisiológicas e cerebrais que determinam os comportamentos diferentes entre homens e mulheres, como o fato de que eles dirigem melhor e entendem matemática com facilidade e elas são ótimas na comunicação e em relacionamentos interpessoais. Certo? Errado, muito errado. Para a psicóloga inglesa Cordelia Fine, essa noção, que ocupa espaço  nos jornais e páginas de livros muito populares sobre comportamento humano, vem de uma interpretação rasa das pesquisas, muitas vezes, malfeitas. Em seu terceiro e mais recente livro Delusions of Gender (Isusões de Gênero, sem edição no Brasil), a pesquisadora, que tem Ph.D. pela Universidade College London, defende que a ciência é a grande culpada pela disseminação dessas noções sexistas e desmistifica estudos importantes feitos nessa área. O sexo de quem conduz cada estudo, segundo ela, pode determinar ou enviesar o resultado da pesquisa. Cordelia, que já participou desse tipo de experimento, fala sobre o papel sexista da ciência nesta entrevista exclusiva.
GALILEU: Como a ciência ajudou a reforçar estereótipos a respeito de homens e mulheres?
CORDELIA FINE: No século 19, os médicos da Inglaterra vitoriana pensavam que o cérebro menor e mais leve das mulheres explicava a suposta inferioridade intelectual. Atualmente, uma idéia muito difundida é que o cérebro masculino é mais especializado que o feminino, e por isso os homens tenderiam a usar um lado para processar a linguagem e o outro para lidar com as informações espaciais. Em contraste, as mulheres usariam os dois lados para tudo. Essa noção não tem apoio nas evidências,  mas escritores populares se apegam a isso para justificar preconceitos antigos, como o de que os homens são melhores em matemática e as mulheres têm mais habilidade para relacionamentos.
GALILEU: Você tem outros exemplos claros dessa manipulação?
CORDELIA FINE: Uma pesquisa que eu cito em meu livro, feita por psicólogos da Universidade de Cambridge, aponta que, quando um menino vê um celular, ele se preocupa como o aparelho, enquanto a menina repara na foto da tela. Acontece que sempre há a chance de o aparelho ser levemente movimentado diante dos meninos para reforçar o resultado esperado. Em outro caso, um estudo da Universidade de Londres com crianças desclassificou um brinquedo antes caracterizado como “masculino” porque as garotas testadas o adoraram. Outro estudo, desta vez nos EUA, apontou que as garotas passaram o dobro do tempo entretidas com brinquedos supostamente de meninos do que com femininos. Mas o dado foi omitido do resultado final. Posso garantir: nesse tipo de pesquisa, dados que não confirmem a tese original do pesquisador são ignorados.
GALILEU: Centenas de estudos apontam essas diferenças. Estão errados?
CORDELIA FINE: De fato, esse tipo de pesquisa pipoca o tempo todo, mas todas têm sérios problemas de metodologia. Em primeiro lugar, costumam ser realizados com amostragens quase insignificantes – o resumo que a imprensa usa para escrever reportagens não costuma deixar isso claro, mas muitas são feitas com algo entre 4 e 8 pessoas. É muito pouco.
GALILEU: Mas as diferenças entre os cérebros existem, não?
CORDELIA FINE: Sem dúvida. Na média, homens têm cérebros maiores e contam com um pequeno grupo de células do hipotálamo ligeiramente maiores. Identificar essas características é fácil e atraente porque pode ser traduzido em imagens. Mas não estamos falando de um órgão estático. O cérebro se desenvolve e se adapta de acordo com o ambiente em que a pessoa está. Os circuitos de neurônios são, em grande parte, resultado do meio físico, social e cultural no qual vivemos. O fato é que se trata de um órgão tremendamente complexo e ainda estamos muito longe de entendê-lo. Não sabemos qual o efeito real de uma amídala um pouco maior ou um córtex frontal direito ser mais ativo em homens, por exemplo.
GALILEU: Se homens e mulheres vivessem em igualdade de tratamento, as diferenças de comportamento entre eles desapareceriam?
CORDELIA FINE: Não conhecemos uma única sociedade que tenha conseguido acabar totalmente com o sexismo, mas acreditamos que sim. Quer dizer, haveria tantos homens quanto mulheres engenheiros, escritores, matemáticos, bons motoristas, capazes de exercer a empatia, por exemplo. Por outro lado, quando o ambiente evidencia as diferenças de gênero, elas se tornam ainda mais fortes. É um efeito em cascata que garante que qualquer executiva americana de sucesso da atualidade seria uma dona de casa na década de 40."

Espero que a matéria os tenham interessado. Caso sim, esse link pode ser igualmente útil para discutir o assunto: Neurossexismo.

Beijos.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Breve invasão lírica

Entendo que esse não é o espaço correto. Não é também a hora certa para escrever dessa forma, mas a vontade grita. Ela já fez muita pirraça, portanto não a controlarei.
Para os não-apreciadores da escrita de cunho lírico, um aviso prévio: esqueça esse post.
'Um dia comum de um final de tarde, a sensação estranha da vida esfregando meus pulsos. Senti-a, sim, nesta tarde. Molhando-me estavam os pingos da chuva que do lado de fora caiam. Iam levando o que eu não queria ter comigo. Era como se nada mais existisse naquele momento. Foi algo meu; o segundo em que descobri o que de fato me pertencia. Esses braços, esses olhos, isso tudo que dizem que carrego dentro de mim. Foi ali que descobri que devo ser leal ao que sinto, ao que penso, ao que sou – por completo; que entendi a quem eu devia satisfações, para quem eu não podia mentir e, principalmente, para quem eu nunca poderia dar as costas e  ignorar.  Afinal, o que me resta possuir que não seja a mim mesma?'
-Divino Egoísmo, GF.
O cotidiano presenteia-nos com a surpresa pelo simples.
 Acredito que depois dessa estranha epifania o cumprimento final “cuide-se” tomou um significado mais profundo para mim, algo que simplesmente vai além de manter-se vivo.


Cuidem-se.
See you soon...

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Nota sobre algo desinteressante...

Como pode ser pressuposto pelo título, esse é um post que pode ser ignorado. Não encorajo-o a lê-lo. Não é interessante, não ultrapassa um desabafo de um conflito interno. Uma mente barulhenta gritando para ser ouvida. Nada mais.

É perceptível, para quem leu algumas vezes uns textos por aqui, que estou já há algum tempo sem escrever. Receio que seja por medo. Sim, caro leitor, medo de decepcioná-lo. Suponho que esse foi sempre o que me apavora nos blogs: leitura ágil, se algo não lhe prende a atenção ou não lhe interessa, basta clicar no botão "X"  no canto superior direito da janela e assunto encerrado.

Não costumo imaginar que alguém leia o que escrevo, mas mesmo assim muitas vezes o medo impede que eu escreva. Perdão, não é "correto" eu ficar discutindo esse tipo de coisas aqui, mas muitas vezes receber uma crítica positiva em forma de elogio me causa certo pavor. Por isso, preciso usar esse post para agradecer as pessoas que - cada uma de sua maneira - me dão formas para enfrentar esse medo e continuar escrevendo e fazendo o que gosto. Sinto que não preciso citar os nomes aqui, tais indivíduos sabem que são especiais para mim.

Um grande beijo, então, àqueles que constituem meu alicerce.