Como escreveu o grande poeta modernista Oswald de Andrade, no Manifesto Pau-Brasil de 1925: "A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos." É sobre isso que pretendo discutir hoje. Depois de tanto tempo sob uma carcaça piegas do português burocrático e comedido, escrevendo segundo as normas gramaticais, venho manifestar meu apreço pela língua do cotidiano. O brasileirismo.
Longe de ser uma revolucionária como os modernistas da primeira fase ou uma defensora fanática da linguagem livre, apresento apenas um ponto de vista sobre a representação e influência da coloquialidade para partes ainda mais intrínsecas e subjetivas do ser humano - no caso, do brasileiro.
Não sei como pode estar entendendo este post, mas imagine. O que seria do 'Eu te amo' sem o erro de colocação pronominal? O falar errado para dizer certo. Será que 'amo-te' soaria tão calorosamente amoroso e verdadeiro? Demonstraria sob as rédeas da norma culta o sentimento popular, mesmo mascarado, envergonhado pela possibilidade do desvio pronominal?
Pessoalmente, agrada-me o uso dos 'vocês' - e da frase popular dos apaixonados com pequena alteração para "eu amo você". A compreensão do não-julgamento do erro alheio, a despreocupação quanto à forma devido à intimidade dos indivíduos presentes na conversa, o tratamento informalizado...
Talvez esse não tenha sido um tema intrigante, todavia gostei de entender a contribuição da qual Oswald tanto falou. Os tantos erros necessários para caracterizarmos corretamente o que somos e o que queremos expressar.
Boa noite.
quinta-feira, dezembro 30, 2010
domingo, dezembro 26, 2010
Nota Sobre a Existência de Deus
Hoje lendo o jornal O GLOBO, que geralmente nao me interessa muito, deparei-me com algo interessante:
"Em épocas antigas, a Igreja católica foi muito censurada por meter-se em assuntos de ciência. Casos como o de Galileu Galilei acabaram mostrando a total impropriedade dessa interferência.
Mas passou-se muito tempo até que a Igreja reconhecesse os seus erros, e reabilitasse Galileu.
Agora estamos vendo, curiosamente, o fenômeno inverso: cientistas que se pronunciam sobre assuntos de religião, e dizem que, de acordo com seus cálculos e medições, fica excluída a possibilidade da existência
de Deus.
Essa cruzada ao contrário talvez tenha um motivo empírico: a aparição, na nossa época, de correntes ditas
fundamentalistas que apresentam a religião sob o seu pior aspecto.
Assim se destruíram, em nome da religião, as torres gêmeas de Nova York, com a morte de milhares de inocentes. Como uma resposta torta a essa carnificina, tomou corpo, nos EUA do presidente Bush, uma forma de fundamentalismo cristão que fez mal à consciência americana, jogando o país de volta a épocas arcaicas.
Mas, na prática, os fundamentalistas acabam caindo no ridículo por suas próprias atitudes; enquanto declarações de cientistas são, ainda hoje, acolhidas com uma espécie de temor reverencial.
Seria bom, nesse caso, voltar a alguns princípios básicos. A verdade é que ciência e religião trabalham com
instrumentos diferentes, e, por isso mesmo, não deveriam entrar numa conversa de surdos.
A ciência, para obter resultados que dignificam a espécie humana, opera com dados exatos, medições e experiências. É difícil imaginar que assim se chegue perto de uma hipotética divindade.
A percepção do divino passa por outros caminhos. Um deles é o que já se chamou de “intuição intelectual”. É um tipo de visão que não depende do raciocínio discursivo.
Pense em certas manifestações da natureza — por exemplo, o mundo das flores. A mim, pessoalmente, emociona e deslumbra o verificar que, em cada flor, alguém ou alguma coisa estava em busca da perfeição.
Em todas elas, sem exceção, vê-se a procura do detalhe que, segundo Goethe, traía a presença do gênio. Nenhuma delas — muito menos a orquídea — dá a impressão de ser fruto do acaso, o resultado de uma série de adaptações. E o que você pode dizer de uma aplica-se a dezenas, a centenas, a milhares.
Nessa espantosa proliferação de beleza, não há algo a mais do que o acaso? Mas se, daí, você quiser extrair uma verdade científica, fracassará lamentavelmente. Porque o cientista quererá discutir flor a flor; a cada uma, aplicará métodos de raciocínio que se afastam de uma intuição generalizante.
Não, isso não é uma prova da existência de Deus. É só uma intuição. Mas por que ela seria menos válida
do que o raciocínio lógico? Imagine que você está num terrível problema de amor, e que, à sua direita, mora um cientista; à esquerda, uma pessoa em quem você se acostumou a admirar o bom-senso, a percepção psicológica. A qual dos dois você recorrerá, nesse apuro?
A divindade — em que eu acredito — jamais quis conformar-se ao raciocínio lógico. Desde que o mundo é mundo, podemos falar no que os entendidos chamam de “teofania” — a manifestação de uma força sobrenatural. Esses episódios, de que todas as culturas estão abundantemente providas, caracterizam-se por um absoluto desprezo das normas convencionais de comportamento. Cada um deles tem o seu tempo, seu lugar, sua peculiaridade; e os veículos humanos que eles atingem também mostram a mais completa diversidade.
Também é curioso que, muitas vezes, esses veículos revelem o que, em termos prosaicos, seria a mais completa inépcia. Eu penso numa camponesa como Bernadette, por exemplo, que, aos 14 anos, na França, teve uma série de visitações da Virgem Maria.
Semianalfabeta, ela era o oposto de uma intelectual. Mas tinha o sólido bom-senso que costumamos atribuir a certa gente do povo. Depois das aparições, ela foi submetida a toda sorte de interrogatórios. Jamais se conseguiu provar que ela delirava, ou inventava; e, na gruta de Lourdes onde a Virgem lhe apareceu, sucederam-se os milagres.
Também estes não servem para provar nada. Não é por aí que as coisas caminham. São apenas sinais na
estrada. O Cristo, aliás, levou ao pé da letra o propósito de não provar nada. Não fez milagres para convencer ninguém, nem para responder aos que o atacavam. Deixou-se levar, como um cordeiro, ao sacrifício; e o que aconteceu depois da sua morte também não foi um evento que repercutisse em praça pública. Soube quem tinha de ficar sabendo.
E assim é com todas as grandes tradições religiosas. Em todas elas, o fenômeno divino está envolto numa nuvem de mistério; no “The Cloud of Unknowing” que é o título de um famoso texto medieval. E, nesse caso, discussões como as que às vezes se propõe são, no mínimo, impertinentes.
LUIZ PAULO HORTA é jornalista."
Mas passou-se muito tempo até que a Igreja reconhecesse os seus erros, e reabilitasse Galileu.
Agora estamos vendo, curiosamente, o fenômeno inverso: cientistas que se pronunciam sobre assuntos de religião, e dizem que, de acordo com seus cálculos e medições, fica excluída a possibilidade da existência
de Deus.
Essa cruzada ao contrário talvez tenha um motivo empírico: a aparição, na nossa época, de correntes ditas
fundamentalistas que apresentam a religião sob o seu pior aspecto.
Assim se destruíram, em nome da religião, as torres gêmeas de Nova York, com a morte de milhares de inocentes. Como uma resposta torta a essa carnificina, tomou corpo, nos EUA do presidente Bush, uma forma de fundamentalismo cristão que fez mal à consciência americana, jogando o país de volta a épocas arcaicas.
Mas, na prática, os fundamentalistas acabam caindo no ridículo por suas próprias atitudes; enquanto declarações de cientistas são, ainda hoje, acolhidas com uma espécie de temor reverencial.
Seria bom, nesse caso, voltar a alguns princípios básicos. A verdade é que ciência e religião trabalham com
instrumentos diferentes, e, por isso mesmo, não deveriam entrar numa conversa de surdos.
A ciência, para obter resultados que dignificam a espécie humana, opera com dados exatos, medições e experiências. É difícil imaginar que assim se chegue perto de uma hipotética divindade.
A percepção do divino passa por outros caminhos. Um deles é o que já se chamou de “intuição intelectual”. É um tipo de visão que não depende do raciocínio discursivo.
Pense em certas manifestações da natureza — por exemplo, o mundo das flores. A mim, pessoalmente, emociona e deslumbra o verificar que, em cada flor, alguém ou alguma coisa estava em busca da perfeição.
Em todas elas, sem exceção, vê-se a procura do detalhe que, segundo Goethe, traía a presença do gênio. Nenhuma delas — muito menos a orquídea — dá a impressão de ser fruto do acaso, o resultado de uma série de adaptações. E o que você pode dizer de uma aplica-se a dezenas, a centenas, a milhares.
Nessa espantosa proliferação de beleza, não há algo a mais do que o acaso? Mas se, daí, você quiser extrair uma verdade científica, fracassará lamentavelmente. Porque o cientista quererá discutir flor a flor; a cada uma, aplicará métodos de raciocínio que se afastam de uma intuição generalizante.
Não, isso não é uma prova da existência de Deus. É só uma intuição. Mas por que ela seria menos válida
do que o raciocínio lógico? Imagine que você está num terrível problema de amor, e que, à sua direita, mora um cientista; à esquerda, uma pessoa em quem você se acostumou a admirar o bom-senso, a percepção psicológica. A qual dos dois você recorrerá, nesse apuro?
A divindade — em que eu acredito — jamais quis conformar-se ao raciocínio lógico. Desde que o mundo é mundo, podemos falar no que os entendidos chamam de “teofania” — a manifestação de uma força sobrenatural. Esses episódios, de que todas as culturas estão abundantemente providas, caracterizam-se por um absoluto desprezo das normas convencionais de comportamento. Cada um deles tem o seu tempo, seu lugar, sua peculiaridade; e os veículos humanos que eles atingem também mostram a mais completa diversidade.
Também é curioso que, muitas vezes, esses veículos revelem o que, em termos prosaicos, seria a mais completa inépcia. Eu penso numa camponesa como Bernadette, por exemplo, que, aos 14 anos, na França, teve uma série de visitações da Virgem Maria.
Semianalfabeta, ela era o oposto de uma intelectual. Mas tinha o sólido bom-senso que costumamos atribuir a certa gente do povo. Depois das aparições, ela foi submetida a toda sorte de interrogatórios. Jamais se conseguiu provar que ela delirava, ou inventava; e, na gruta de Lourdes onde a Virgem lhe apareceu, sucederam-se os milagres.
Também estes não servem para provar nada. Não é por aí que as coisas caminham. São apenas sinais na
estrada. O Cristo, aliás, levou ao pé da letra o propósito de não provar nada. Não fez milagres para convencer ninguém, nem para responder aos que o atacavam. Deixou-se levar, como um cordeiro, ao sacrifício; e o que aconteceu depois da sua morte também não foi um evento que repercutisse em praça pública. Soube quem tinha de ficar sabendo.
E assim é com todas as grandes tradições religiosas. Em todas elas, o fenômeno divino está envolto numa nuvem de mistério; no “The Cloud of Unknowing” que é o título de um famoso texto medieval. E, nesse caso, discussões como as que às vezes se propõe são, no mínimo, impertinentes.
LUIZ PAULO HORTA é jornalista."
quarta-feira, dezembro 15, 2010
Nota Sobre Manipulação.
Primeiramente, gostaria de justificar minha ausência por um considerável período de tempo. Estou na reta final de uma maratona de vestibulares, por isso não tive tempo de refletir e escrever algo aqui. Sem notas por um tempo, mas hoje desejei publicar mais um post nesse quase esquecido blog.
Proponho uma discussão um tanto breve acerca de manipulação. Observo ao redor a frequência com que falam sobre tal tema, as vezes de uma forma tão simplista: "isso é manipulação de massa", "o governo manipulou a população para conseguir votos, dá isso...dá aquilo". Discordo. O conceito de manipulação, na minha humilde opinião, requer mais atenção à sua complexidade.
Afirmar que o Estado ou que a mídia forçam o indivíduo a agir de forma compulsória é facilmente refutável. Até onde sei, tais aparatos não possuem influência direta sobre nossas ações. Concorda? Vejamos, pois, que se adotarmos tal idéia, renegamos consequentemente a consciencia humana e a capacidade de escolhas que possuímos. ( Digo escolhas, mas de forma limitada. Refiro-me ao "livre arbítrio" confinado nas possibilidades disponibilizadas pelo contexto em que se vive. Enfim, a seleção entre elementos de um universo subdividido, uma liberdade cerceada.)
Nesse sentido, cabe ressaltar a teoria defendida por Joseph Thomas Klapper - no caso da comunicação coletiva. Klapper afirmava que a mídia não provocava uma mudança direta no pensamento humano, pois a modificação de ponto de vista está condicionada a inclinação pessoal à aceitação do material exposto ao público. Ademais, observou também que a cosmovisão de cada persona era adaptada pelo grupo pertencido - família, igreja, escola, etc.
Sendo assim, é um tanto ignorante atribuir a culpa do consumismo apenas às propagandas. Elas não forçam a compra, correto? As pessoas assimilam a recompensa ( reconhecimento, poder, etc) que receberão devido ao consumo de tal artigo ou seviço. A compra ocorre para satisfação individual, logo, percebe-se a atividade cerebral humana agindo para receber o que deseja, sem intervenção direta de âmbito externo.
No entanto, as comunicações de massa possuem atuação mais influente ao tratarem de temas desconhecidos, sobre os quais a população não possui uma opinião fixa previamente formada.
Quanto à manipulação do povo por parte do Estado, foi um temo recorrente neste ano de eleições. Acusações de governantes como populistas e "manipuladores de pobres" borbulharam da boca de muita gente. É comum, desde a Era Vargas, o uso de tais expressões. Entretanto, mais uma vez caímos no mesmo erro, a mania de ser simplista. Dando nomes aos bois, comparemos, então, Vargas e Lula.
Sobre a Era Vargas (1930-1945), por muito tempo foi "correto", ou pelo menos usual, caracterizar o trabalhador como passivo frente ao Estado varguista. Atualmente, compreende-se o equívoco presente nessa concepção. O que realmente ocorria era o que hoje foi entitulado (por um acadêmico de História da UFF) como "Troca Simbólica". Ou seja, os operários urbanos (pois naquela época os trabalhadores rurais estavam excluídos dos benefícios concedidos) submetiam-se ao governo porque este atendia à certa parcela de suas reivindicações. Apoiar um governo que oferece a você o que deseja não é se deixar manipular.
O mesmo ocorreu no caso Lula (2002-2010), tanto para sua reeleição quanto para Dilma - sua indicação ao cargo presidencial, que venceu as últimas eleições. Muito se discutiu sobre a manipulação dos votos das camadas populares (e preconceituosamente dos nordestinos, mas isso já foi assunto de outro post). Mais um equívoco. Utilizando da máxima defendida pelo sistema capitalista neoliberal de que cada um deve lutar por seus interesse, por que aqueles que se sentiram beneficiados com o governo não votariam nele? Assim como no caso varguista, um bom termo para isso seria, novamente, "troca simbólica". É um jogo de interesses, de mão dupla. Do Estado para o povo, do povo para o Estado.
Portanto, culpar um fator externo como controlador de atitudes pessoais é a forma mais fácil de destituir a culpa de si mesmo. Cada um é o manipulador de suas próprias ações. Daí se você é mais influenciável ou não, é uma idiossincrasia. O fato é que só quem pode fazer a escolha é você mesmo. Por isso, escolha bem.
Abraços.
Proponho uma discussão um tanto breve acerca de manipulação. Observo ao redor a frequência com que falam sobre tal tema, as vezes de uma forma tão simplista: "isso é manipulação de massa", "o governo manipulou a população para conseguir votos, dá isso...dá aquilo". Discordo. O conceito de manipulação, na minha humilde opinião, requer mais atenção à sua complexidade.
Afirmar que o Estado ou que a mídia forçam o indivíduo a agir de forma compulsória é facilmente refutável. Até onde sei, tais aparatos não possuem influência direta sobre nossas ações. Concorda? Vejamos, pois, que se adotarmos tal idéia, renegamos consequentemente a consciencia humana e a capacidade de escolhas que possuímos. ( Digo escolhas, mas de forma limitada. Refiro-me ao "livre arbítrio" confinado nas possibilidades disponibilizadas pelo contexto em que se vive. Enfim, a seleção entre elementos de um universo subdividido, uma liberdade cerceada.)
Nesse sentido, cabe ressaltar a teoria defendida por Joseph Thomas Klapper - no caso da comunicação coletiva. Klapper afirmava que a mídia não provocava uma mudança direta no pensamento humano, pois a modificação de ponto de vista está condicionada a inclinação pessoal à aceitação do material exposto ao público. Ademais, observou também que a cosmovisão de cada persona era adaptada pelo grupo pertencido - família, igreja, escola, etc.
Sendo assim, é um tanto ignorante atribuir a culpa do consumismo apenas às propagandas. Elas não forçam a compra, correto? As pessoas assimilam a recompensa ( reconhecimento, poder, etc) que receberão devido ao consumo de tal artigo ou seviço. A compra ocorre para satisfação individual, logo, percebe-se a atividade cerebral humana agindo para receber o que deseja, sem intervenção direta de âmbito externo.
No entanto, as comunicações de massa possuem atuação mais influente ao tratarem de temas desconhecidos, sobre os quais a população não possui uma opinião fixa previamente formada.
Quanto à manipulação do povo por parte do Estado, foi um temo recorrente neste ano de eleições. Acusações de governantes como populistas e "manipuladores de pobres" borbulharam da boca de muita gente. É comum, desde a Era Vargas, o uso de tais expressões. Entretanto, mais uma vez caímos no mesmo erro, a mania de ser simplista. Dando nomes aos bois, comparemos, então, Vargas e Lula.
Sobre a Era Vargas (1930-1945), por muito tempo foi "correto", ou pelo menos usual, caracterizar o trabalhador como passivo frente ao Estado varguista. Atualmente, compreende-se o equívoco presente nessa concepção. O que realmente ocorria era o que hoje foi entitulado (por um acadêmico de História da UFF) como "Troca Simbólica". Ou seja, os operários urbanos (pois naquela época os trabalhadores rurais estavam excluídos dos benefícios concedidos) submetiam-se ao governo porque este atendia à certa parcela de suas reivindicações. Apoiar um governo que oferece a você o que deseja não é se deixar manipular.
O mesmo ocorreu no caso Lula (2002-2010), tanto para sua reeleição quanto para Dilma - sua indicação ao cargo presidencial, que venceu as últimas eleições. Muito se discutiu sobre a manipulação dos votos das camadas populares (e preconceituosamente dos nordestinos, mas isso já foi assunto de outro post). Mais um equívoco. Utilizando da máxima defendida pelo sistema capitalista neoliberal de que cada um deve lutar por seus interesse, por que aqueles que se sentiram beneficiados com o governo não votariam nele? Assim como no caso varguista, um bom termo para isso seria, novamente, "troca simbólica". É um jogo de interesses, de mão dupla. Do Estado para o povo, do povo para o Estado.
Portanto, culpar um fator externo como controlador de atitudes pessoais é a forma mais fácil de destituir a culpa de si mesmo. Cada um é o manipulador de suas próprias ações. Daí se você é mais influenciável ou não, é uma idiossincrasia. O fato é que só quem pode fazer a escolha é você mesmo. Por isso, escolha bem.
Abraços.
quarta-feira, dezembro 01, 2010
Nota sobre relacionamentos/ expectativas
Para quem já assistiu ao filme '500 Days of Summer' (ou, em português, 500 dias com ela) deve estar começando a entender o que quero dizer com essa imagem e com o título do post. Muito simples, gostaria de me certificar de que não sofro desse problema sozinha.
Vou usar a primeira pessoa do singular, pois somente expondo dessa forma posso comprovar conhecimento de causa. Não sou uma pessoa lacônica - aprendi essa palavra recentemente e quer dizer "breve resumida, concisa, exata" -, dou voltas para tentar explorar melhor a situação antes de um possível clímax. Essa é a melhor maneira que encontro para dizer o que quero e da forma que me apetece.
Talvez isso que escrevo já tenha acontecido com você. Talvez não. Nessa situação, não creio que exista muita disparidade entre homens e mulheres - o filme 500 days of summer, por exemplo, pode ser catártico para ambos os sexos.
Para mim, projetar expectativas nas pessoas já é algo corriqueiro, comum em grande parte das vezes - principalmente em relacionamentos que não vingam. Sei que não é o melhor a fazer, mas não controlo minha mente(é, as vezes ela é um caos). Isso ocorre de forma tão exagerada que chego a criar um personagem completamente diferente da pessoa real, mas são mais raras essas ocasiões ( esses casos apresentam-se mais em alguma forma de 'amor platônico', coisa de algum tempo atrás, mais infanto-juvenil).
Na verdade, faz certo tempo que não "trabalho" mais em modificações e reconfigurações de personalidades. Agora meu ramo é outro: acontecimentos. Assim como o protagonista do filme, Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt), eu crio muitas expectativas em encontros e acontecimentos - se quiser assistir ao trecho do filme, clique aqui.
Como você pode estar percebendo, afogar-se -de propósito- em um mar de ilusões é procurar frustrações. A estória, então, não poderia tomar outro rumo senão esse. Frustrações com relacionamentos que não acontecem, com situações que fogem daquilo que foi imaginado, com condições adversas que provocam constrangimentos... Eu poderia citar inúmeras outras consequências, mas preferi começar a entender o porquê faço isso e tentar melhorar.
Depois que deixei para trás as idéias cristalizadas e falsas dos romances perfeitos e das comédias românticas clichês de finais felizes previsíveis, tornou-se mais fácil entender o que devo fazer daqui para frente. Entendo melhor, hoje, que a função dessas projeções em outras pessoas era servir como escudo para o meu medo de envolvimentos afetivos; medo de dependência amorosa.
Ainda tenho medo desse último, não creio que seja saudável para uma relação - assim como o ciúmes que para mim não tem nada a ver com amor, sim com posse do outro. Temo entender-me como metade e procurar uma outra para que me complete, tal tese é defendida pela maioria das idéias românticas que conheço. Entretanto, não sei se consigo compreender minha totalidade, adotar outra tese: preciso de um companheiro/parceiro e não uma tampa para minha panela, a metade da minha laranja. Desde que me entendo por gente, sei que sou completa. Acho que não falta nenhum pedaço, metaforicamente falando, em mim, mas é difícil reconhecer-se completo.
Acho que é isso.
Então, se ainda não assistiu ao longa sobre o qual falei tanto no post, assista. Se já assistiu, ou só leu o post e viu o vídeo, reflita. Diga-me: o que acontece com você?
P.S.: Ainda esperava o dia em que alguém abriria meus olhos cantando uma música da pitty que demorei muito tempo até gostar e entender que serve de fala às pessoas que sofrem as expectativas: Não é minha culpa sua projeção... (Pitty - me adora).
Eu que tenho que resolver isso. - Não, não é nada com você. O problema é/era comigo.
Beijos & Abraços. Tenham um bom dia e perdoem o excesso de subjetividade.
terça-feira, novembro 30, 2010
Nota sobre 'Etnocentrismo - Sabe o que é isso?'
Como bem descreveu Everaldo Rocha:
Não foi e não é nada fácil. Apender a respeitar o outro; respeitar suas diferenças - as vezes tão incompatíveis com o que acreditamos.Mesmo assim, vale a pena tentar. Tenho tentado isso por todo esse ano. Acredito que é algo fundamental para uma vida em sociedade; em uma sociedade liberta de opressões às suas comunidades minoritárias.
A História das Sociedades foi escrita de acordo com atitudes etnocêntricas empreendidas em diferentes épocas.Foi marcada pela submissão dos oprimidos, catequização de índios, escravização de africanos, perseguições e limitações de muitos indivíduos... Tudo isso com o apoio de ideologias distorcidas e racistas. Portanto, o etnocentrismo é um fenômeno atemporal.
A única solução que vejo, e claro baseio-me em pensamentos e percepções de antropólogos e cientistas sociais para dizer-lhes, é a relativização. O ato de se colocar no lugar do outro, deixar por certo tempo seu juízo de valor e propor adotar o do outro para entender melhor a situação. Não condicionar, pois, sua cosmovisão ao que você esta acostumado a entender como certo ou comum. Relativizar é valorizar a cultura alheia e compreender a importância da diversidade. Aí, começa o discurso clichê em que muito se diz e nada se faz.
O sistema no qual estamos inseridos possui diversas normas. Exemplo: sistema - tipos de cabelos; normas- cacheado, liso, enrolado, afro, etc. A prática etnocêntrica adota uma das normas como superior e subjulga as demais. Nesse contexto que verifica-se a necessidade de relativizar, de utilizar-se da alteridade - que nada mais é que equilibrar, destribuindo igualmente a valorização das diversas normas existentes.
Tire um tempo para refletir. Esqueça por alguns minutos o mundo caótico que vivemos.
E pare, e pense, e conclua: O mundo seria um lugar bem melhor se cada indiíduo aprendesse que viver em comunidade é estar em constante contato com o diferente e aprender a RESPEITÁ-LO. "Importa relativizar todos os modos de ser; nenhum deles é absoluto a ponto de invalidar os demais; impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo simples fato de estar-aí, goza de direito de existir e de co-existir." (Leonardo Boff)
Obrigada pela paciência com esse post.
Beijos & Abraços.(Para ler o texto em sua íntegra, clique AQUI )
"O etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas concepções do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.[...]Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade.
De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe.
Este choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças. Grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural.
O grupo do “eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível
O etnocentrismo não é propriedade, como já disse, de uma única sociedade, apesar de que, na nossa, revestiu-se de um caráter ativista e colonizador com ao mais diferentes empreendimentos de conquista e destruição de outros povos."
Não foi e não é nada fácil. Apender a respeitar o outro; respeitar suas diferenças - as vezes tão incompatíveis com o que acreditamos.Mesmo assim, vale a pena tentar. Tenho tentado isso por todo esse ano. Acredito que é algo fundamental para uma vida em sociedade; em uma sociedade liberta de opressões às suas comunidades minoritárias.
A História das Sociedades foi escrita de acordo com atitudes etnocêntricas empreendidas em diferentes épocas.Foi marcada pela submissão dos oprimidos, catequização de índios, escravização de africanos, perseguições e limitações de muitos indivíduos... Tudo isso com o apoio de ideologias distorcidas e racistas. Portanto, o etnocentrismo é um fenômeno atemporal.
A única solução que vejo, e claro baseio-me em pensamentos e percepções de antropólogos e cientistas sociais para dizer-lhes, é a relativização. O ato de se colocar no lugar do outro, deixar por certo tempo seu juízo de valor e propor adotar o do outro para entender melhor a situação. Não condicionar, pois, sua cosmovisão ao que você esta acostumado a entender como certo ou comum. Relativizar é valorizar a cultura alheia e compreender a importância da diversidade. Aí, começa o discurso clichê em que muito se diz e nada se faz.
O sistema no qual estamos inseridos possui diversas normas. Exemplo: sistema - tipos de cabelos; normas- cacheado, liso, enrolado, afro, etc. A prática etnocêntrica adota uma das normas como superior e subjulga as demais. Nesse contexto que verifica-se a necessidade de relativizar, de utilizar-se da alteridade - que nada mais é que equilibrar, destribuindo igualmente a valorização das diversas normas existentes.
Tire um tempo para refletir. Esqueça por alguns minutos o mundo caótico que vivemos.
E pare, e pense, e conclua: O mundo seria um lugar bem melhor se cada indiíduo aprendesse que viver em comunidade é estar em constante contato com o diferente e aprender a RESPEITÁ-LO. "Importa relativizar todos os modos de ser; nenhum deles é absoluto a ponto de invalidar os demais; impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo simples fato de estar-aí, goza de direito de existir e de co-existir." (Leonardo Boff)
Obrigada pela paciência com esse post.
Beijos & Abraços.(Para ler o texto em sua íntegra, clique AQUI )
sábado, novembro 27, 2010
Nota Sobre Nordestinos
Recentemente, li no blog da Nara um texto que me pareceu muito bom. Um humor sutil, uma ironia inteligente de José Barbosa Junior.
'' Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".
Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos" Houaiss e Aurélio) do nosso país.
E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!
Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!
E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura...
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...
E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...
Ah! Nordestinos...
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.
Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!
Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da melhor qualidade!
Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!
Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.
Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”
Finalizo o post reconhecendo que nem todas as opiniões emitidas pelo autor são validadas como minha opinião também. Não tenho nada contra o funk carioca, latino, whatever. Okay?
Beijos ;*
'' Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".
Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos" Houaiss e Aurélio) do nosso país.
E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!
Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!
E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura...
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...
E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...
Ah! Nordestinos...
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.
Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!
Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da melhor qualidade!
Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!
Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.
Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”
Finalizo o post reconhecendo que nem todas as opiniões emitidas pelo autor são validadas como minha opinião também. Não tenho nada contra o funk carioca, latino, whatever. Okay?
Beijos ;*
sexta-feira, novembro 26, 2010
Desabafo / Fluxo de Consciência
Nota sobre meu país, Brasil: Sim, gosto desse tom possessivo. Dá-me uma sensação de pertencimento e participação. Não sei bem como iniciar esse post, fluem tantas fragmentações de pensamentos e argumentos que não consigo capturar. Vou tomar uma água. Não imagine que pretendo falar dessa forma tão formal sobre nosso – meu e seu – país.
Não quero ficar aqui dando voltas em um nacionalismo recheado de ilusão. Aprendi a partir da realidade, da crítica. Na verdade, o que me esta incomodando – de tal forma que me faz escrever isso- é a visão diferente que tomei do Brasil.
Até mesmo com o Brazil (o Brasil olhado pelo estrangeiro) estou indignada. É mais que estranho, pelo menos para mim, o imaginário do que é este país, fora dele. Fico reparando muito programas e pessoas que fazem as tantas opções de intercâmbios e programas interculturais. Notei uma semelhança entre –aviso! Estimativa infundada e provavelmente sem precisão – 88% das pessoas que se propõe a vivenciar o aprendizado de uma cultura estrangeira e quem sabe “ensinar a cultura brasileira”: elas apresentam fortes sintomas de aculturação. Uma doença tão forte que não acredito estar fora do grupo, mas reconheço que estou em tratamento.
Para início de conversa, essa coisa de sair do país para estudar ainda me parece um tanto elitista. É essa a ferida que encontrei. Talvez as pessoas que perderam tempo demais a adorar os feitos europeus ao longo da História do Brasil, seguindo a risca o manual do eurocentrismo, não reparem nisso. Uma perguntinha, você sabe quem civilizou o Brasil? Sabe mesmo? Não sou historiadora e não tenho mérito para fazer muito alarde sobre o assunto – é na meritocracia que vivemos, né? Porém, seria muita ingenuidade achar que fomos civilizados pelo Velho Mundo. E o Brasil africano? E o ameríndio? Você acredita mesmo que meia dúzia de europeus brancos e cristãos criaram o que temos aqui hoje? Com muita sorte não.
Veja, repare bem nossa cultura. A conhecemos mesmo? Atualmente, faço o possível para entender melhor o Brasil, seu verdadeiro povo. Não considero povo abrasileirado os moradores alienados em condomínios fechados da Barra da Tijuca. Não sei se sou só eu que estou cansada do ‘Brasil – Rio de Janeiro – Zona Sul’. Não desce mais pela minha garganta, entalou. Não engulo mais essa. E o SAMBA? E as religiões africanas, a capoeira, o calor humano, a alegria incompreensível desse povo? Quem relacionar o velho mundo com isso, por favor, pare de ler isso aqui.
Eu gosto de ver como a história do Rio de Janeiro mostrou que o Povo – sim o Povo mesmo do rio de Janeiro, os cariocas não só por acaso geográfico, aqueles que conhecem mesmo a cidade, que vivem no Rio e não no acervo turístico – resistiu e resiste às opressões, ao descaso dos políticos e do resto do RJ e do Brasil. Enquanto lia matérias no site Favela Tem Memória, me deparei com algumas datas interessantes:
- 1893: Demolição do Cortiço Cabeça-de-Porco. Segundo os jornais da época, seus moradores aproveitaram os restos da estalagem para construir os primeiros barracos do Morro da Providência, antigo Morro da Favela.
- 1897: Soldados da Guerra de Canudos chegam ao Rio e se estabelecem no Morro da Providência.
- 1900: O Jornal do Brasil publica o texto: “Onde moram os pobres”, sobre os moradores do Morro da Favela: “O ilustre Dr. Pereira Passos, ativo e inteligente prefeito da cidade, já tem as suas vistas de arguto administrador voltadas para a ‘Favela’ e em breve providências serão dadas de acordo com as leis municipais, para acabar com esses casebres”.
- 1897: Soldados da Guerra de Canudos chegam ao Rio e se estabelecem no Morro da Providência.
- 1900: O Jornal do Brasil publica o texto: “Onde moram os pobres”, sobre os moradores do Morro da Favela: “O ilustre Dr. Pereira Passos, ativo e inteligente prefeito da cidade, já tem as suas vistas de arguto administrador voltadas para a ‘Favela’ e em breve providências serão dadas de acordo com as leis municipais, para acabar com esses casebres”.
As Favelas... Se acha que vou falar do que anda ocorrendo no Rio, prefiro não comentar. Vou ficar de olhos/ouvidos um tanto tapados para não ver/ouvir as babaquices que passam a dizer. Como se agora todos virassem profissionais da segurança pública... O que você acha de ficar excluído, segregado, ignorado do restante do lugar em que vive? Dá para entender porque são tantos os homens que agora fogem de um morro para o outro... Não estou defendendo bandido como você deve estar pensando, não tem nada a ver com isso. Estou evidenciando a cegueira do Estado com as mais de 600 favelas no Rio de Janeiro – cidade. (estatísticas do IBGE). Até o Rio ser escolhido para sede de jogos olímpicos nada se fazia...
Mas agora o Estado resolve colocar UPP até sabe-se lá onde. Se você acha que é a solução, vá em frente. Tenho minhas crenças e descrenças na UPP. Já reparou que é só mais uma vez o Estado entrando com POLÍCIA para manter a ordem? Já reparou que não serão feitas pacificações em muitos lugares? Pode-se muito bem deixar milícias no poder de muitas favelas – Ah, eles garantem a segurança lá, dizem alguns. Você ingenuamente pensou que – Ah, agora o Estado está começando a se preocupar com os favelados (falo assim, carinhosamente, com todo respeito a quem mora nas favelas) ??
Sinto dizer que as milagrosas Unidades de Polícia Pacificadora estão localizadas COINCIDENTEMENTE (oh!) nas áreas nobres e naquelas que receberão projetos para o Rio 2016. Destruí algum conto de fadas? Se o fiz, me desculpe. Eu só queria abrir os olhos daqueles que parecem nem ter entendido a mensagem de Tropa de Elite 2.
Por último, eu percebi que não segui uma linha de raciocínio... Devem haver muitos erros, mas esse post especial eu não quero revisar. Eu sei o que penso, sei o que escrevi. O Título ia ser “Nota sobre meu país, Brasil” mas mudei. Será DESABAFO.
Abraços.
quinta-feira, novembro 25, 2010
Nota sobre amor/tempo
Primeiramente, leiam esse capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis. É simples, curto e grosso. Depois de feita a leitura, retomarei o sentido que algum trecho específico produziu para a minha cosmovisão. Provavelmente não será o mesmo que você destacou, isso acontece. Sinta cada palavra e o poder da digressão (flashback) que marca o contraste.

“Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, a tirar as moedas da vida para dá-las à morte, e a contá-las assim:

— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...
O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados. De certo tempo em diante não ouvi coisa nenhuma, porque o meu pensamento, ardiloso e traquinas, saltou pela janela fora e bateu as asas na direção da casa de Virgília. Aí achou no peitoril de uma janela o pensamento de Virgília, saudaram-se e ficaram de palestra. Nós a rolarmos na cama, talvez com frio, necessitados de repouso, e os dois vadios ali postos, a repetirem o velho diálogo de Adão e Eva.”


Agora sim será possível reiterar o meu ponto de vista sobre esse fragmento da obra. O trecho que mais saltou aos meus olhos foi a interessante intervenção da noção de tempo ocorrida devido ao “sentimento amoroso” empregnado no narrador. Você percebeu? Usualmente o tempo era visto como indicador de “menos vida”,entretanto quando o narrador se encontrava num estado de espírito que costumamos identificar por “estar amando/apaixonado”, o tempo tornou-se motivação e motivador: “Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados”
Sinceramente, apesar do pessimismo intrigante e atraente típico da prosa Machadiana, é possível recobrir o excerto de uma melancólica e romântica percepção do que pode vir a ser ‘amor’. Ainda há outras distorções da noção temporal trazidas pela sensação, as vezes estranha, de saber-se envolvido emocionalmente. Desde Jorge Amado – uma preferência pessoal – até Vinícius de Morais propuseram tal observação em seus textos. Vinícius ficou eternizado por sua frase, que por pouco não vira ditado popular: “Que seja eterno enquato dure”. Logo, dessacralizando a visão idealizada do amor eterno para uma visão real de eterno amor. Já o autor baiano tratou de dar mais uma vertente a retratação da efemeridade do amor, em ‘Gabriela, Cravo e Canela’ escreveu em uma fala da protagonista: “Tudo que é bom, tudo que é ruim também termina por acabar.” Talvez esse trecho não mantenha uma relação tão direta com o assunto tratado nesse post, porém vale como fortificador da idéia de que tudo passa – tanto para o bom amor, quanto para o mal amor. (Perdoem a falta de comprometimento com a coerência desse último período, mas acho que eu precisava escrever isso. Como disse uma vez Caio Fernando Abreu, repito: "Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta.". Para bom entendedor... é, você entendeu.)
“Sem mais, despeço-me” seria formal demais? Sim, sim, talvez.
quarta-feira, novembro 24, 2010
Velho e clichê " 1° post"
Já dava para perceber não é?
Não há nenhum outro ainda no blog. Então, só para que não haja reclamações acerca da subversão do ritual do blogueiro: "Oi, esse é o meu primeiro post. Que legal".
Foto meramente ilustrativa ;)
É isso, não costumo ver primeiros posts com conteúdo mesmo. Estaria por bem acabado.
No entanto, gostaria de sublinhar o que pode ter ficado muito vago com o "eu e o blog" ali no canto direito (lá na parte superior da página, ok?). Não pretendo fazer revoluções com a apresentação de idéias ultra-vanguardistas, nem fazer o que quase toda blogueira com um template tão "rosa e fofinho" faria - falar futilidades. Acho que esse blog é só de revolta - com os blogues que não acrescentam em nada a vida de quem lê, que não instigam reflexões, que não significam nada (Não que esse vá significar algo para você, vai saber).
O que eu não tinha para dizer eu já falei.
Por agora é só.
Boa tarde!
Não há nenhum outro ainda no blog. Então, só para que não haja reclamações acerca da subversão do ritual do blogueiro: "Oi, esse é o meu primeiro post. Que legal".
Foto meramente ilustrativa ;)
É isso, não costumo ver primeiros posts com conteúdo mesmo. Estaria por bem acabado.
No entanto, gostaria de sublinhar o que pode ter ficado muito vago com o "eu e o blog" ali no canto direito (lá na parte superior da página, ok?). Não pretendo fazer revoluções com a apresentação de idéias ultra-vanguardistas, nem fazer o que quase toda blogueira com um template tão "rosa e fofinho" faria - falar futilidades. Acho que esse blog é só de revolta - com os blogues que não acrescentam em nada a vida de quem lê, que não instigam reflexões, que não significam nada (Não que esse vá significar algo para você, vai saber).
O que eu não tinha para dizer eu já falei.
Por agora é só.
Boa tarde!
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